Quesito/Julgamento

 

O QUE É O JULGAMENTO? (Dicas gerais) 

A disputa existe desde o nascimento das Escolas de Samba. Nasce praticamente com elas o crescimento dessa disputa assim como do próprio Carnaval, resultou no aparecimento do julgamento como hoje o conhecemos: uma tentativa de dar consistência técnica à escolha da melhor Escola de Samba ou do melhor Carnaval, evitando o máximo possível, injustiças e favorecimentos. Por outro lado essa necessidade trouxe-nos o problema que se constitui na questão central do julgamento das Escolas de Samba: a adoção de critérios rígidos para avaliar uma atividade marcada, essencialmente pela espontaneidade, criatividade e improviso.

Essa contradição é talvez a maior dificuldade a ser enfrentada no julgamento. Mas como toda pergunta contém um pouco de sua resposta, felizmente essa questão também nos oferece a sua. O bom julgamento deve basear-se justamente no EQUILÍBRIO entre os fatores objetivos que são os critérios claros e definidos e os subjetivos que são os específicos de cada Entidade, além da percepção individual de cada jurado. Se o ato de julgar fosse simplesmente uma conferência de requisitos básicos, não haveria necessidade de jurados e a comissão Fiscalizadora realizaria o trabalho. O jurado existe justamente para ponderar e analisar até que grau (daí a nota) a Agremiação cumpriu a totalidade do requisito. Por isso o julgamento de Escola de Samba é coisa muito séria. Não pode, nem deve, ser tratado ao sabor do improviso... exige planejamento, operação, estudo e trabalho. 

 

NOTAS E JUSTIFICATIVAS

A nota deve ser uma conclusão da avaliação do quesito acima, mas muitas vezes torna-se difícil transformar avaliações em números frios. Aconselha-se a realização de um rascunho com as notas, antes de serem lançadas definitivamente no formulário final. Este procedimento pode ajudar em possíveis ponderações finais.

 

As justificativas devem conter resumidamente, mas de modo objetivo, a avaliação feita durante o desfile. Elas são especialmente importantes, porque explicam ao dirigente ou representante da Escola de Samba o erro ou falha cometidos, servindo assim como importante aprendizado para seus próximos Carnavais. 

 

PRIMÓRDIOS E O SURGIMENTO DOS QUESITOS.

Para explicitar os fundamentos dos quesitos das Escolas de Samba, é necessário buscar as bases fundamentais do surgimento das Escolas. Vejamos:

 

O elemento essencial do carnaval sempre foi o Cortejo; o Rancho, o Cordão, o Bloco, o Maracatu, eram reminiscências de folguedos negros, com Rei, Rainha. Os ranchos que deram origem as Escolas de Samba e serviram de modelo, eram derivados dos pastoris.

    Os Pastoris é manifestação preservada ainda hoje, principalmente no nordeste, e também no interior do Rio de Janeiro, é um auto-dramático que acontece no período natalino, via de regra se dançava em frente ao presépio. Tem vários personagens mitológicos como Diana, a caçadora, assim como a peixeira tirada da realidade do dia a dia.

    Eu já dancei em Pastoril ao lado do Cordão encarnado, e fui também a Peixeira. Com o tempo, principalmente por influência do nordeste o Pastoril abandonou o seu lado sagrado para assumir uma posição profana.

Fechado por muito tempo as mulheres, com o tempo foi aberto ao elemento feminino, pela necessidade das vozes para o coro, eram as pastoras.

    Existiam também nos Ranchos os mestres; um de Harmonia, um de Canto e um de Sala Responsável pela coreografia.

Pelas pesquisas feitas até agora, os primeiros Ranchos foram o "Mimosa Cravinas o "Ameno Resedá" de 1906.

    Até 1957 já em total decadência, existiam ainda 11 Ranchos: entre eles, os Aliados de Quintino, Inocentes do Catumbi, Unidos do Morro do Pinto, Unidos do Caçadores. E no Bairro de Quintino, subúrbio da central, perto de Madureira a maior concentração de Ranchos-3.

    O totemismo e atávico aos negros e por isto perduram até hoje, Símbolos claros como o emblema que continuaram nas Escolas de Samba, assim como sua organização aparentemente aberta mas na realidade fechada é por isto que cada um de nós tem a sua agremiação, as suas cores e seu símbolo, o pavilhão, as danças, as cerimonias, e o santo padroeiro.

O primeiro enredo que se tem notícia é de 1908. O Rancho Ameno Resedá teatralizou o tema, a Corte Egipciana, a novidade agradou a todos e imediatamente foi imitado pelos outros Ranchos, no princípio os enredos eram quase sempre mitológicos os enredos serviram e servem até hoje como ponto de união para contar uma história com princípio, meio e fim.

Apesar de muitas vezes a Escola desfilar embaralhada em meio a muitas alas, resultam mesmo assim de boa consciência temática, ou seja, com os enredos ou fábula, canto, drama como define os dicionários, apresentam nos seus desfiles uma história, e sem um enredo as Escolas não podem descrever seu desfile. E a espinha dorsal. E importante no entanto saber que o enredo é possível de variada leitura, dependendo portanto do carnavalesco, e a análise do jurado deve ser atenta para fazer a leitura do carnavalesco e não a nossa: Aí está o surgimento do enredo e sua função.

 

O nome da Escola de Samba, continua ainda gerando bastante controvérsia. Almirante dizia que Olavo Bilac em 1915/1916, criou as linhas de tiro de guerra, e o povo incorporou as expressões de caserna, e uma das mais marcantes era: Escola! Sentido! Só que nesta época não existia ainda Escola de Samba.

 

Já Ismael Silva grande compositor fundador Deixa falar do Estácio, que nasceu como Bloco e já em 1930 desfilava como Rancho, e que na verdade nunca foi Escola de Samba, em 1931 desfilou com o enredo "Paraíso de Dante" que foi o mais lindo desfile da época. Segundo Ismael Silva, o nome Escola de Samba, devolveu-se a proximidade do Estácio com a Escola Normal, ele afirmava também que na Escola aprendia-se a ler e escrever e na Escola de Samba aprendia-se a sambar.

 

Quando as Escolas de Samba assumiram o lugar dos Ranchos nos desfiles carnavalescos, seguiram os moldes daquilo que era próprio dos Ranchos, ou seja a mesma estrutura de Cortejo com uma nova música, o samba. Como, os Ranchos surgiram com os Sudaneses portanto com os valores culturais dos povos Sudaneses, e o samba por outro lado tem sua raiz nas culturas Banto e vem do Semba, isto deixa claro que mais uma vez o negro em defesa da sua cultura lançou mão do sincretismo como forma de união e sobrevivência cultural.

 

SAMBA ENREDO

O Samba enredo como os outros quesitos também vieram dos Ranchos, a partir do Ameno Resedá em 1908 todos os Ranchos passaram a desfilar com enredo.

Nas Escolas alguns afirmam que o primeiro foi "Pátria Querida" de Carlos Cachaça no carnaval de 1935. O carnaval foi oficializado exatamente neste ano, e talvez este fato coloque como o primeiro samba enredo do carnaval oficial, o do Carlos Cachaça, sabemos no entanto que as Escolas criaram força a partir de 1930, portanto é possível que o samba enredo tenha surgido um pouco antes, como pode também ter surgido com a regularização. Outros defendem que o primeiro foi o samba de Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira "Conferência de São Francisco" apresentada pela Escola de Samba Prazer da Serrinha, hoje Império Serrano, em 1946. Acredito na primeira versão por que o samba de Mano Décio e Silas de Oliveira aconteceu 11 anos depois.

Em 1923 o escritor Coelho Neto apelou para o patriotismo dos Ranchos e sugeriu que desfilassem com temas de caráter estritamente nacional, mas foi a partir do Estado Novo que foi oficialmente decidido que os enredos teriam que ser sobre o Brasil, era um período ufanista com a fundação da Cidade do Aço-Volta Redonda, e de afirmação do nacionalismo.

BATERIA

Os negros trouxeram para o Brasil uma enorme variedade de instrumentos de percussão, toda e qualquer manifestação religiosa ou profana dos negros eram acompanhadas por um enorme cortejo de tocadores, por que o ritmo é parte da alma negra.

Quando da formação dos conjuntos musicais para os Ranchos Carnavalescos foi valorizado muito mais os instrumentos de corda e de sopro. Naquele período, finalmente o povo teve maior acesso para tocar estes instrumentos, até então só acessível a classe média, é possível também que o ritmo das marchas Rancho que eram dolentes, eu diria até um pouco triste, não tivessem espaço para um ritmo mais percussivo. Vejamos:

 

A estrela Dalva

No céu desponta

E a lua anda tonta

Com tamanho explendor

E as pastorinhas

Pra consolo da lua

Vão cantando na rua

Lindos versos de amor

 

Com o surgimento das Escolas de Samba e com o sincretismo das culturas Sudanesas e Bantos, surge o samba, e como o Semba de Angola, sua raiz, com o ritmo mais possante e variado, os instrumentos de percussão ganham destaque, os instrumentos de sopro foram afastados e os instrumentos de corda ficaram o necessário para a Harmonia musical, como o violão, o cavaquinho e o bandolim.


 

O Julgamento e Avaliação do

Mestre Sala e da Porta Bandeira no carnaval.

 

MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

A função do Mestre-Sala é cortejar e apresentar a Porta-Bandeira assim como proteger e exibir, orgulhoso, o pavilhão da escola. Enquanto isso, cabe à Porta-Bandeira conduzir e apresentar o pavilhão, desfraldando-o em gestos graciosos e reverenciosos.

Para isso, os jurados darão notas à apresentação e à Indumentária. O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira não sambam, eles levam com graça e leveza a bandeira, fazem passos marcados, rodopiam, e tem gestos elegantes e desenvoltos. A Porta-Bandeira ganha pontos com sua leveza, sua graça e sua atitude altiva e nobre.

A fantasia do casal é das mais esmeradas da escola. Tudo deve estar combinado, os cuidados com a confecção são redobrados, e eles perdem pontos caso um chapéu ou parte de sua indumentária caia na avenida.

 

 

Outras definições:

MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

O casal que desempenha este papel representa a escola na avenida, como símbolos da entidade, apresentando a bandeira da escola ao público. Qualquer tropeço ou um movimento inadequado (como deixar a bandeira bater no mestre-sala) de acordo com as rígidas regras pode fazer a escola perder pontos.

 

SEGUNDO AVLIAÇÃO DA UESP

A PORTA-BANDEIRA é a figura mais representativa de uma Escola de Samba, da mesma forma que a PORTA-ESTANDARTE nos Blocos Carnavalescos (que, entretanto, não é julgada), pois a elas cabe a honra de conduzir o Pavilhão da Entidade. Cabe a ela, PORTA-BANDEIRA, mostrar garbo, graça, elegância e dança com desenvoltura, com movimentos distintos, sem visagens desnecessárias.

 

MESTRE-SALA, somente nas Escolas de Samba, é o guardião do Pavilhão, surgiu da necessidade existente, no passado, de que o mesmo não fosse arrebatado pelas Entidades rivais. O MESTRE-SALA, atualmente, tem outra finalidade, qual seja, chamar a atenção para o PAVILHÃO e todo o seu trabalho deve se voltar para a PORTA-BANDEIRA, portanto a ele são permitidos todos os movimentos, desde que pareçam naturais e se voltem para a PORTA-BANDEIRA e o Pavilhão.

 

Na função, a PORTA-BANDEIRA e o MESTRE-SALA se identificam plenamente, pois executam um bailado no ritmo do Samba (NÃO DEVENDO NUNCA SAMBAR) fazem constantemente movimentos sincronizados, tem variedade de passos e entendem-se a um simples olhar, nunca se comunicando verbalmente.

 

A PORTA-BANDEIRA jamais se curva a qualquer pessoa, uma vez que ela ostenta o ponto máximo da ESCOLA DE SAMBA que é o seu Pavilhão. O seu bailar tem características próprias que são movimentos giratórios em torno de seu próprio eixo, no sentido horário e anti-horário, segurando o mastro de seu Pavilhão apenas com o dedo mínimo, perpendicularmente ao solo.

 

A elegância do casal de MESTRE-SALA & PORTA-BANDEIRA é de extrema importância, constituindo faltas graves imputadas ao MESTRE-SALA que colocar os joelhos, as mãos ou deitar-se ao chão ou dar as costas a Porta- Bandeira. A Porta-bandeira deve conduzir o Pavilhão sempre desfraldado e sem enrolá-lo no próprio corpo, ou carregá-lo nas costas. Em nenhum momento o casal pode se chocar corporalmente.

 

Um par entrosado sabe que sua apresentação não permite momentos para exibição individual, o movimento de um tem sempre de estar relacionado ao movimento do outro.

 

Um casal ricamente fantasiado chama a atenção, não há como negar, mas a fantasia é dado que não deve ser considerado no julgamento da dupla.

 

Finalmente, um último dado: mais importante do que a Porta-Bandeira e do que o Mestre-Sala é o Pavilhão da Escola. Todo o trabalho do casal deve voltar-se para o Pavilhão. Ele é a razão da existência da dupla.

 

Observação: Quando a Entidade apresenta mais de um casal, caberá ao segundo conduzir o Pavilhão do Enredo, que não é julgado.

 

PARÂMETROS BÁSICOS PARA O JULGAMENTO DO QUESITO

MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

 

Sincronismo: É o perfeito entrosamento entre os movimentos do casal.

Postura: É a forma de conduzir a apresentar o Pavilhão da Escola com altivez, simpatia e elegância.

Estilo: É maneira singular do casal e evoluir. Apenas eles devem bailar dentro do desfile. Deve-se observar a criatividade e desenvoltura dentro deste bailado.

 

 

JULGAMENTO DO QUESITO

Como julgar Mestre-Sala e Porta-Bandeira:

 

Observar:

Se há perfeito sincronismo dos movimentos do casal, se não bailam independentemente um do outro;

A elegância do bailado, os gestos com os quais mostram e reverenciam seu pavilhão, não sendo permitido ao Mestre-Sala ajoelhar-se, tocando o chão, ou passar à frente da Porta-Bandeira, dando-lhe as costas;

Se o Mestre-Sala, durante todo o tempo, reverencia sua dama, a corteja, mostrando-se sempre um perfeito cavalheiro;

Se o bailado é leve, espontâneo e natural, durante o desfile;

Até que ponto o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira está cumprindo com suas obrigatoriedades (rituais):

Reverência (passeio em torno da bandeira)

Pavilhão (abertura solene da bandeira)

Saudação à bandeira (pelo próprio casal)

Proteção

Mesuras

Cortejos

 

JUSTIFICATIVA PARA JULGAMENTO:

Roupas volumosas atrapalharam os movimentos do casal;

Não houve sincronismo coreográfico entre Mestre-Sala e Porta-Bandeira; os passos não de completaram a contento.

Não houve harmonia e elegância entre Mestre-Sala e Porta-Bandeira; movimentos bruscos.

Não houve exibição do pavilhão à frente das cabinas dos julgadores; o casal não apresentou a bandeira.

O Mestre-Sala ajoelhou-se no chão e/ou colocou a mão no chão;

Tanto o Mestre-Sala quanto a Porta-Bandeira se apresentaram individualmente, sem sincronia e harmonia.

O Mestre-Sala deu às costas à Porta-Bandeira e ao pavilhão, tomando-lhe à frente; ato falho de ambos!

A Porta-Bandeira conduziu o pavilhão de maneira indevida (por exemplo, deixou a bandeira inclinada, atrás da cabeça ou enrolou o pavilhão no mastro, ou bateu com o pavilhão no corpo do Mestre-Sala); ato falho de ambos!

Houve perda de parte da fantasia do Mestre-Sal e/ou Porta Bandeira; ato falho de ambos!

Houve ocorrência de queda, tanto de um como de outro;

Houve arrumação da Porta-Bandeira (indumentária) por qualquer pessoa que não o Mestre-Sala e/ou o presidente da entidade ou, ainda quem estiver conduzindo o casal;

Houve o toque na bandeira por terceiros, sem que esta tenha sido apresentada pelo Mestre-Sala.

 

 

FONTES DE CONSULTA:

ARAUJO, Hiran. O SAMBA EM EVOLUÇÃO.

https://alapavilhaoimperiano.webnode.com.br/quesito-ms-e-pb/julgamento-do-quesito/

https://www.ligasp.com.br/assets/files/carnaval-2012/Manual-do-Julgador-SP-2012.pdf