OS SEGREDOS DA DANÇA

 

O “PAS-DE-DEUX”

MÁGICO DO SAMBA 

Reflexões sobre o casal de Mestre Sala, Porta Bandeira e Porta Estandarte.

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A ARTE DE SER PORTA BANDEIRA. 

O ritual da dança de uma Porta Bandeira é riquíssimo, em contraponto com o reduzido número de passos definidos em sua coregrafia.

As nuanças na efetiva execução dos passos é que cristalizam a importância de cada especialista.

Os passos básicos são:

1.      O PATINETE – que consiste em falsear um pé e impulsionar o corpo com o outro;

2.      O AVIÃOZINHO – que consiste em deslocar-se de lado como uma criança, fazendo “roooon” e segurando no alto o avião(no caso  bandeira)

3.      O BALANÇO – que consiste em marcar um pé e outro, sem sair do lugar, ao tempo que a bandeira balança, ou ainda fazer o mesmo balançamento pé a pé cadenciando, andando para frente;

4.      O ABANO – que consiste na volta e meia com o corpo, para que a cabeça não atinja a cabeça do Mestre Sala, abrindo-se assim, permanentemente um espaço para a aproximação dele;

5.      A CRIAÇÃO – inventiva na própria passarela de desfiles, são capazes de lhes dar notoriedade na condução do pavilhão.

 

 

Vejamos agora algumas essencialidades sobre o ritual de uma Porta Bandeira e também algumas das providências básicas que ajudarão sempre conquistar notas máximas.

I.       A unificação dos matizes das fantasias da Porta Bandeira e do Mestre Sala propiciam um bom visual, capaz de esconder até erros coreográficos;

II.     Usar um cinto almofadado, como cueiro dos bebês, para proteção da cintura;

III.  Responsável por desastres tragicômicos na vida de desfilantes, a cabeleira em sisal, igualmente, deve ser abolida, é um bom alvitre comprar cabelos naturais e entrançá-los aos seus(se necessário);

IV.  Nos pés sapatos de salto médio, nem fino, nem grosso, fechados, porque nunca se sabe que tipo de piso vai se encontrar pela frente.

V.    O uso de meias pode embaraçar-lhe os pés quando rompem;

VI.  Usar shortinho sob a saia, para não excitar os fotógrafos e manter alto respeito ao posto;

VII.            Trocar o pau da bandeira por um mastro de alumínio fino e oco, que é mais resistente e vibrátil. Quanto ao tamanho da bandeira não deve ser muito grande, pois acaba virando lençol e cobrindo quem a carrega.

VIII.         Na ponta do mastro vê-se colocar apenas uma reprodução do símbolo da escola ou de uma harpa em metal leve(tudo com rosca) desmontável; jamais deve-se usar penas ou penachos, pois quem tem que se destacar é a bandeira e nunca a pena de ema ou de pavão.

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 SEGREDO POR SEGREDO

Para quem se inicia na arte de ser porta bandeira aqui vai uma imagem que deve ser memorizada e seguida.

“A dança do Mestre Sala e da Porta Bandeira é como o voleio do Beija-flor em torno da rosa. Ele se aproxima, toca e sai, Volta a se aproximar, beija e sai. Nunca as ações são idênticas. E a rosa, ao contrário do que se pensa, ao sabor do vento das asas do pássaro, não permanece passiva, ela DANÇA.” 

O par que se aproximar dessa conjugação(beija-flor – rosa – vento) pode dizer que chegou perto da perfeição, fascinante mistério da dança do Mestre Sala e da Porta Bandeira.

Dentro deste raciocínio, o primeiro requisito par uma boa especialista em sua área é a postura. Antes de iniciar a dança a Porta Bandeira deve estar a entrada da pista de apresentação, ereta, mão esquerda na cintura(em forma de bule) e a direita em cunha,enroscada no mastro. Sua aparência neste momento deve ser de falsa passividade, já que nesta hora a Porta Bandeira observa o espaço que terá pra evoluir,e, também, o andamento do ritmo da bateria e do samba que estiver sendo cantado. Ali, então, ela define o ritmo e a intensidade que dará a si mesma quando começar a dançar.

Não há nada pior do que executar uma coreografia ensaiada que não se ajuste ao ritmo e a melodia que dominam o ambiente.

Ouvido o apito do diretor de harmonia para o início da exibição, quem é de crença que se benza, após arma um sorriso, se optar dê seu grito de guerra(sem revelar a origem) e arranca decidida, fazendo o patinete e percorrendo todos os extremos a área que lhe é dada.

Essa arrancada é para dominar o espaço onde irá evoluir, o chão que pisará e também a ocasião de apresentar o pavilhão ao público.

Dominado o espaço, há quem leve a bandeira aos ritimistas, a exemplo do que faz o cavalo(médium possuído pelo orixá) com tambores de atabaques nos terreiros, pois sem ritmo não há dança. Em seguida, exibe-se para a direção de Harmonia que, com leve cumprimento, diz estar tudo certo e autoriza que prossiga.

Para aquecer o andamento, o casal faz o balanço. Ato contínuo o Mestre Sala  pede a mão da Porta Bandeira, gentil, faz a menção do beijo,esquiva-se e foge, enrolando-se sob seu braço. Em seguia afasta-se, executa piruetas de praxe e, num aceno de lenço, volta par busca-la.

Ela deve estar sempre olhando para ele, á espera de um gesto combinado para iniciar a dança em forma de roda. Bem aí vem mais um segredinho: “Não circule caminhando passo a passo, mas sim como se tentasse passar perna sobre perna, o que dá um andamento especial aos braços da porta bandeira propiciando um ondulado diferente ao tremulara da bandeira .

Na evolução que se segue na coreografia do par é comum que o Mestre Sala  se poste meio ajoelhado(em manolê) propiciando a ela dançar em seu entorno.

Aí reside mais um segredinho, a Porta Bandeira nunca deve dar a mão por inteiro ao Mestre Sala, apenas o dedo anular. É em torno deste dedo que ele, suavemente fecha a mão fazendo uma espécie de rosca, permitindo a ela o corrupio em torno do corpo dele. A rosca evita que a Porta Bandeira perca a mão de seu par.

Obs.: É vexatório para um Mestre Sala “ajoelhado”, ver sua Porta Bandeira distanciar-se.

Bem a partir daí a coreografia evolui para o seu ponto máximo. Ele levanta, afasta-se dela e começa através de pequenos saltos, salamaleques, fugas e contra-fugas, a verdadeira corte a Porta Bandeira.

Neste momento ela dança como se abanasse a bandeira. Quando ele avança de um lado de um lado a bandeira fica no outro. Quando ele se projeta na direção dela, esta afasta-se. E fica nisso um certo tempo. Num determinado momento ela cede a mão à ele, que avança, e aí bailam em círculo, ela fazendo a base e ele a borda, agarradinhos, simbolizando a posse.

Depois disso, os dois voltam a dançar separados e mais a frente tornam a se enlaçar. Então o Mestre Sala  diminui o ritmo para que se dirijam a pessoa mais importante à vista. No caso do desfile oficial, o jurado do quesito que lhes corresponde.

Aqui vai mais um segredinho válido, não só para a Porta Bandeira, mas também para a Porta Estandarte:

“ A apresentação da bandeira deve ser uma verdadeira reverência na qual se coloca toda a sedução de uma fêmea conquistada. Com um sorriso suave e iluminando o rosto, dobram-se os joelhos, na altura do outro, e o corpo desce. A bandeira e a cabeça vão um pouco à frente. Na curvatura final, usa-se o braço livre com a mão aberta mas com os dedos esticados para os seios, um gesto simples de pudor. A Porta Bandeira que se preza entrega a bandeira para alguém por que isso é obrigatório na tradição do samba. Mas em contraponto, reza para que a pessoa tenha finura apenas de fingir que toca a bandeira com os lábios. Tudo isso por que se homem pode estar com as mãos sujas, se mulher, é certo que o batom ou rouge irão sujar, no caso, macular  bandeira.

Por último mais um segredinho: a Porta Bandeira e ou Porta Estandarte devem ir a passarela de desfiles bem maquiadas, e se possível usar cílios postiços grandes, daqueles que quando piscam varrem a avenida.

 

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A DANÇA DO MESTRE SALA

É a arte da sedução, pois precisa o Mestre Sala  ser dotado de cavalheirismo em sua forma mais densa, é marca do bom Mestre Sala,  ternura que domina o ser humano tomado de inspiração e do desejo em conquistar a sua amada, sem o que não haverá ritual, a essência da dança é a própria sedução.

 

PASSO A PASSO.

Ao contrário do que ocorre com a Porta Bandeira, a coreografia do Mestre Sala é mais rica. Do seu ritual, além de improvisados maneios, requebros, fugas e contra-fugas que se modificam de acordo com a melodia e o ritmo do samba, observem os seguintes passos:

 

Cruzado -  o Mestre Sala  dá um pequeno salto, planta a perna esquerda com o pé na horizontal e estica a perna direita par a frente. O pé direito toma, então a posição vertical e é arrastado miudinho vagarosamente em direção ao pé plantado na horizontal. O corpo cai ora para a esquerda, ora para a direita. Quanto mais junto da Porta Bandeira, a ação tom forma de uma roda em torno dela. A coreografia se encerra com uma batida de perna firme no chão, seguida de graciosa pirueta.

Meio Sapateado – como um pássaro mostrando a plumagem para a fêmea na exibição do pré namoro, o Mestre Sala  faz uma troca rápida dos pés no chão, sem sair do lugar. É um sapateado rápido, uma esfrega de caras, que acaba numa pirueta e numa parada brusca. Pode repetir o meio-sapateado já segurando a mão da Porta Bandeira.

Voleio – pé esquerdo plantado no chão em posição vertical, a perna direita levanta-se um pouco, dobrando-se o joelho á frente. O corpo então é girado rapidamente nos dois sentidos, numa torção veloz. Numa destas torcidas, o jeito do pé direito vai par trás da perna esquerda. O corpo vai daí, para uma falsa queda, enquanto o braço esquerdo espera a mão da Porta Bandeira.

Pegada de Mão – após inversões e negaceios diante da Porta Bandeira, desviando-se da bandeira, o Mestre Sala  alcança  mão de seu par inclina o tronco e o braço direito para trás para que a bandeira não atinja seu rosto. Planta e solta levemente o pé esquerdo, ao tempo em que o direito aciona o corpo para que a Porta Bandeira gire em torno dele.

Currupio – tomando a mão da Porta Bandeira com a mão esquerda, com a direita ele alcança a cintura dela. Em passos miudinhos e delicados um pé falseia e o outro empurra. Os dois rodam, olhos nos olhos, sorridentes, simbolizando a posse.

Carrapeta – encerrando o currupio, ele se afasta e exibe-se em passos miúdos e nervosos. Os olhos estarão, contudo, na companheira e seu pavilhão. Ele, faz então a pirueta completa, rodando rápido em torno de si mesmo, porque não pode perder a visão da companheira(é seu guardião). A este passo dá-se o nome de carrapeta, que pode ser simples, dupla ou até mesmo tripla, dependendo da música e do espaço dado ao casal.

Apresentação da Bandeira –  encerradas as carrapetas e também a exibição da Porta Bandeira, o Mestre Sala  repete as esquivas e maneios de aproximação. Toma, então, a mão dela e diminui o ritmo da dança, prepara a apresentação da bandeira. Neste momento é de bom alvitre  ele e ela se enlaçassem e ela to contínuo cubrir ambos com a bandeira. Por trás, com a mão direita em torno da cintura dela, ele pega sua mão esquerda. Ao puxa-la provoca um impulso. Ela faz meia roda mas volta para ele. Vitoriosos, juntinhos, com passos delicados, caminham em direção ao jurado. Ele afasta-se um pouco, dobra um joelho sem tocar no chão, segura uma pontinha da bandeira e com a mão esquerda já dobrando o tronco para trás. A mão direita, solene, indica seu pavilhão aberto. Ao levantar-se, aproxima-se dela, insinua um beijo, roda-a pela cintura e recomeça a dança.

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Segredo para ser um bom Mestre Sala

 

comungar com a tese de que o Mestre Sala  deve imitar o beija-flor em sua ação,fazendo da rosa o objeto de sua atração.

Para ter bem viva esta imagem observe os colibris em volta de bebedouros.

Manter-se sempre com um bom preparo físico, fazer longas caminhadas juntamente com sua Porta Bandeira e, evitar dietas, mas comer e beber moderadamente.

Primar pela categoria que tem por base os passos do minueto, onde se localiza a origem da dança do Mestre Sala.

Primar ao máximo por manter os pés no chão, jamais realizar ações acrobáticas.

 

Por último a que se ter presente que todo Mestre Sala  e Porta Bandeira são oriundos dos ranchos, figuras estas extraídas pelo samba.

Sabe-se também que o Mestre Sala dos ranchos a dança é mais suave, delicada com as marcas da sedução.

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BIBLIOGRAFIA

REGO, JOSÉ CARLOS. Dança do Samba – Exercício do Prazer. 2ª Edição – Ampliada – Págs. 54;56;57;60;62

Readaptação de texto para o carnaval de Porto Alegre / RS: Bel. Ari Ariovaldo Chgas Nunes.